
Sabes, tenho medo daquilo a que a gente se habitua. Quando te foste embora, pensei que não iria ser capaz de dormir mais nenhuma noite inteira, sentindo o vazio ao meu lado, na cama. Pensei que iria andar os dias todos como que perdida e ausente, sem me conseguir concentrar em coisa nenhuma, hora a hora imaginando-te aí, tão longe, tão distraído com outras coisas, tão distante de nós. E, depois, dei-me conta de que me conseguia ir habituando. A dormir sem ti, a acordar de manhã e não te ver, a começar o dia sabendo que tu não irias estar presente, a ir-me deitar sem saber nada de ti. Habituei-me a criar outras rotinas, outra maneira de fazer as coisas, outros pensamentos com que ocupar a cabeça, outras distrações para me esquecer da tua ausência. Descobri que a distância cria distância - e não sei se isso é bom ou mau. Se é uma forma de defesa passageira ou se é uma habituação para sempre. Percebes o que eu quero dizer?
Miguel Sousa Tavares
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